A minha nota de cem reais
Ultimamente o que estamos lendo e ouvindo nos noticiários são referências a cifras financeiras que nós, meros mortais não conseguimos abstrair. Quando ouvimos que a empreiteira tal fez um desvio de bilhões de reais, na essência nós não conseguimos mensurar essa quantia. Tem um colega meu por exemplo que tudo que ele vai comprar ele pensa... Nossa isso daria pra comprar tantas cervejas. E assim vai, cada um com seu parâmetro monetário que nos distancia cada vez mais desta triste realidade que estamos vivenciando.
Lembro que houve uma movimentação a um tempo atrás para manifestação sobre o aumento da passagem de ônibus. Paralisações e manifestações na esplanada dos ministérios, porque a passagem teria um aumento de R$0,45. Ai eu fico pensando! Estamos muito longe da nossa realidade. A pobreza nesse aspecto tem um caráter anestésico, nos aliviando um pouco do entendimento macabro que é a corrupção do nosso heroico e próspero Brasil.
Assistindo aos noticiários, vi uma simulação da fortuna recuperada pela operação Lava Jato em Curitiba(PR). A pilha de dinheiro era cenográfica e foi montada para chamar atenção da população para termos noção da quantidade de dinheiro, uma tentativa de mostrar para os pobres mortais o que representa quatro bilhões de reais recuperados pela polícia federal. Foi aí que resolvi abrir a minha carteira e constatei uma única nota de cem reais dobradinha bem guardadinha, intacta! Busquei na lembrança quando foi que havia colocado tal relíquia ali na minha carteira e por qual motivo (do caralho) ela estava ainda intacta, diante da minha “pindaíba” financeira?
Lembrei quando foi... Eu precisava repassar uma grana para meus filhos: R$40,00 para um e R$30,00 para outro. Fiz um saque no banco 24h. Nenhum dos caixas tenha nota de R$20,00 disponível então fui obrigado a fazer um saque de R$100,00 na esperança de sair duas notas de R$50,00 (pelo menos) mas como isso nunca dá certo (minhas expectativas) saiu uma nota de R$100,00 (linda! Novinha). Dei uma "voltinha" no Shopping procurando algo barato pra comprar para conseguir trocar a “miserável”! A minha primeira vítima foi o MC Donald Sorveteria. Pedi a moça, duas (vejam bem, pedi duas!) casquinhas. Quando fui pagar com a nota a moça (uma nordestina, percebi logo pelo sotaque) disse: – Arre égua! O Senhor tá maluco é? Tem cartão não? Como a outra garota já havia preparado as duas casquinhas, tive que pagar as casquinhas com cartão de débito.
Após várias tentativas de trocar a “miserável” desisti porque senão ia gastar o restinho do dinheiro que tinha com débitos. Voltei pra casa triste e desconsolado, os filhos vieram pra cima esperançosos. – E ai pai “kd” a grana? Mostrei a nota de cem reais pra eles, só ouvi o comentário: “PQP, mas o senhor é burro mesmo! Vai nunca mais se livrar dela!”. Eu disse: Relaxa, vou na padaria, lá eu consigo trocar! Cheguei direto no caixa, afinal conhecia a garota há vários anos e ela sempre foi bem educada comigo. Disse: – Bom dia! Você pode trocar um dinheiro para mim? E ela: – Claro! Quando eu mostrei a “miserável” para ela foi como se eu tivesse dado um tapa na cara dela. – É o que! Você quer que eu troque uma nota de cem reais? É isso mesmo? Tenho não meu senhor! (Passou a me tratar formalmente) Baixei a cabeça e entrei para ver se comprando alguma coisa ela conseguiria trocar! Ela logo deu o grito: – Ohhh! Dedé (gerente da padaria). Esse cara aí tá tentando trocar uma nota de cem reais (Dedé olha pra mim com gosto de sangue na boca), acompanha ele aí! Se pegar mercadoria por menos de R$70,00 já fala pra ele que não tem troco! Voltei caladinho para casa e quebrei o cofre! Peguei as moedas de R$1,00 e dei um saquinho de moeda para cada filho e guardei a nota dobradinha na minha carteira! Até esqueci da existência da “miserável”!
Agora vejam só! O que um pobre iria fazer com uma pilha de grana igual àquela que a polícia federal fez! Pensa na dor de cabeça! Quatro bilhões de reais são: 40 milhões de notas de cem reais. Se uma já me deu esse trabalho todo e ainda estou com ela empatada! Essa dinheirama toda pra mim não ia valer de nada! Dinheiro “pouco” eu tenho é muito!