A senciência

18/05/2016 22:00

      No prato jaz suas folhas, amputadas na região onde começa a base de seu tronco. Com a faca, você serra os condutores vasculares de seiva elaborada. A seguir, coloca o tecido morto na boca e começa a dilacerá-lo com os dentes. As fibras, células compridas e resistentes, são picadas em pedaços. Na sua boca, a água (que ocupa até 75% da célula) se espalha, carregando organelas celulares e todas as vitaminas, os minerais que tornavam a sua estrutura viva, capaz de realizar suas funções para a sustentação da vida.

      Sim, meu caro, por mais que você odeie pensar que a comida no seu prato tenha sido um ser vivo um dia, você está comendo um cadáver. Uma alface morta.

      Hoje vamos falar sobre a “Senciência” um termo que significa que os animais não-humanos sofrem, buscam o prazer e evitam a dor. Para esses animais, os conceitos de sofrimento e morte existem e são percebidos e têm o desejo de permanecerem vivos, e é esta a razão porque os “Veganos” não se alimentam e não fazem uso de nada que contenha derivados de animais.

      Eu sempre achei fantástico esse pensamento, apesar de ainda não ser um “Vegano”. Contudo, estava eu a pensar com meus botões... E as plantas? Será que elas não tem desejo de permanecerem vivas? Será que não sentem dor? Será que são seres vivos desprovidos de “senciência”?

      Muito complexo isso né? Mas eu na minha insignificância, já observei como o girassol se contorce todo em busca da luz para se alimentar. Observei também que assim como os escorpiões e alguns aracnídeos, muitas plantas tem veneno para se protegerem no intuito de manter a própria vida e também ficam atrativas com suas flores em cores exuberantes e cheiros peculiares para atrair os insetos para serem digeridos ou apenas para se reproduzirem (polinização). Para mim, isso é querer viver também!

      Fiquei então imaginando algumas situações.

      Imagina um pé de alface... Está lá todo feliz fazendo a sua fotossíntese e de repente, vem um homem, pega ele pelo pescoço e passa a faca nas suas raízes, dilacerando de forma brutal a sua sustentação e em seguida suas folhas mais antigas são arrancadas brutalmente e ela morre sem poder se defender e é servida num prato com alguns temperos picantes em cima.

      Estava observando a colheita da banana, e observei que logo após a retirada do cacho, o pé é eliminado para que venha uma nova bananeira, simplesmente porque uma bananeira só produz um cacho de bananas. Porque não deixar a coitada viver até morrer de velhinha em agradecimento à banana que nos deu?

      Já imaginaram como deve ser dolorido para um pé de milho sentir suas lindas espigas (filhinhos indefesos) serem arrancadas de seus braços acolhedores e depois quebrarem sua coluna ao meio para morrer seco, sem ter a chance de defesa?

      É muita brutalidade com as plantas. A mandioca por exemplo coitada, ela é arrancada da terra em solavancos e puxões. Pega a coitada pelos galhos e vai puxando até se desprender da terra. Muita crueldade!

      Entendo que seja um assunto complexo e por isso mesmo precisamos expandir nossas compreensões. O que temos de instrumento para tentar compreender a “senciência” é a ciência e ela por si só é muito limitada para garantir que as plantas (mesmo que em um grau menor) pode perceber a vida a sua volta e ter a “consciência” de querer viver.

      Até ter uma definição clara desta situação, vou continuar comendo as duas coisas, até por uma questão de justiça com as plantinhas.

      Bom apetite a todos!