Boa e barata

10/10/2017 21:23

                Pobre não tem jeito mesmo né!

                Final de semana, sem nada para fazer! – Filho! Vamos dar uma volta na feira dos importados? – Bora Pai! Comprar o que? – Ué, e precisa comprar alguma coisa, vamos dar uma volta, quem sabe tem alguma coisa “boa e barata!” (Primeiro erro do pobre, não existe nada bom e barato!).

                – Filho! Vamos andando né, é pertinho (porra nenhuma!) e a gente precisa fazer exercício! – Bora Pai!

                Às 14:30 sol de quina na nossa testa, lá vamos nós, felizes! rumo ao grande passeio de Sábado. – Pai, quanto temos para gastar hoje? – Bem, contando que vou tomar uma cerveja gelada e você vai querer o tal de Açaí e um caldo de cana, vai sobrar R$ 47,20 para gastar. Mas não espero gastar! Só se acharmos algo bom e barato!

                Chegando... Demos direto com uma promoção imperdível! Caldo de cana, R$1,99 a vontade! – Uai Pai, “a vontade?!!! Isso mesmo?” até eu animei a tomar caldo de cana, afinal isso sim era uma coisa “boa e barata!”. Entramos no caldo de cana com vontade e a vontade! Como dizia a promoção. Não estava muito geladinho, mas promoção é promoção! No primeiro copo lembrei do curau quente, mas tomei coragem e pedi mais alguns copos!

                Caldo tomado, seguimos o passeio! Pensa no calor e o caldo que era para refrescar começou a se agasalhar melhor na barriga e fazia aqueles barulhos estranhos! Meu DEUS vai começar meu tormento! (Pensei) Mas nada de cólica, só reorganização do líquido na barriga mesmo! João não estava reclamando de nada, então estava tudo ótimo!

                Estávamos olhando de tudo! Desde material para caça e pesca até peixinho “betta”! Entrávamos em todas as lojas, até parecia que estávamos cheio da grana! Estava divertido.

                De repente o João para de frente a um quiosque e diz: – Olha Pai... Kit aparador de pelos e barba seco e molhado com oito acessórios para aparar nariz, orelha, barba, costeletas, axilas e etc.. (Tudo onde tem pelo). Ficamos encantados com aquele produto! Sonho antigo nosso! – Quanto custa filho? – De R$ 99,90 por R$ 49,90 – Nossa tá barato! Vamos levar, afinal estávamos cheio de caldo de cana, não ia caber a cerveja mesmo e nem tão pouco o açaí! O dinheiro dava!

                Compramos! Fomos para casa ansiosos! Tínhamos que carregar a bateria por pelo menos quatro horas, de acordo com a vendedora! Segundo ela, uma carga completa dava para fazer 4 barbas! Então como não temos muita barba assim, criamos uma expectativa de uma carga por semana!

                Domingo de manhã, acordo assustado com um barulho estranho vindo do banheiro! Como se estivessem triturando algo! Saí correndo! Percebi que o João estava trancado no banheiro! – Filho está tudo bem aí? – Sim Pai, estou fazendo o bigode com a máquina! – E que barulho é esse meu filho? Parece que você está estrangulando um gato! – Relaxa Pai! Tá funcionando! Tá esquentando mas tá tirando os pelos!

                A cada instante que se passava a máquina fazia um barulho diferente e mais assustador! Comecei a me preocupar pela integridade física do meu filho. Aí... Silêncio total! João sai do banheiro com o buço vermelho de tanto esfregar a máquina para conseguir tirar os pelos! – É funcionou Pai! (Disse ele com certo desânimo) – Mas precisa deste barulho todo? Se o Tony Ramos usar, esse negócio vai cantar o ilariê da Xuxa! E explodir (Risos..)

                Eu estava mais ansioso para testar um dos oito acessórios que vinha no kit, era um aparelho que parece uma caneta, que de acordo com o manual do usuário (em chinês) servia para depilar os cabelinhos do nariz! (Descobrimos pelas gravuras). Coloquei a bateria no aparelho e liguei com os olhos fechados já esperando um barulho estranho ou explodir, sei lá! Mas o aparelho funcionou tão suavemente e silenciosamente que fiquei surpreso e desconfiado!

                Pela gravura do manual, a coisa era simples! Bastava introduzir a pontinha do aparelho na narina e ir fazendo movimentos circulares para alcançar todos os pelinhos e o aparelho vai cortando tudo! Assim fiz! Introduzi a pontinha do aparelho na narina (com muita fé!) e senti uma lágrima rolar no meu rosto! O “treco” travou! O tufo de cabelo do meu nariz embaraçou naquele “troço”! O aparelho não conseguiu cortar o tufo de cabelo e também não desembaraçava. Desliguei o aparelho na esperança dele abrir as garras e soltar os pelos, mas foi em vão! Lá estava eu. Com aquele treco dependurado no nariz! Sem saber o que fazer! Tentei torcer levemente de um lado para outro, para me livrar da máquina maligna, mas nada! Então só me restava um único movimento! Sentei no vaso, na eminência de alguma necessidade fisiológica. Segurei firme o aparelho e mentalmente contei até três! E no três... Dei um solavanco forte e sem piedade, arranquei o aparelho da narina com todos os pelinhos grudados naquelas garras demoníacas!

                A ideia de me sentar no vaso foi providencial! Botei o dedo dentro da narina para analisar o estrago, verificar se tinha realmente saído apenas os pelos. Estava lisinha! Enxuguei as lágrimas, recuperei o fôlego e peguei a pinça para tirar os pelos da outra narina, melhor um a um do que todos de uma só vez!

                Até hoje o João usa a outra máquina de depilar, barulhenta! Para fazer o bigode. A do nariz, desde aquele dia não sei onde anda, e não tenho nenhum interesse em encontrá-la. Os outros acessórios não tivemos coragem de testar. João queria que eu testasse o de cortar pelos da orelha, mas não entrei na onda dele! O importante é que aprendemos a lição: O bom e barato nunca andam juntos!